Simões Lopes Neto na Feira do Livro

A professora Débora Mutter fala aos demais convidados sobre o teatro de Simões Lopes Neto.

João Simões Lopes Neto. O nome talvez bastasse, mas não. Vamos combinar: pra falar dele, um dos maiores escritores das letras gaúchas, nunca basta. Um dos pioneiros na literatura brasileira a dar voz ao popular, à linguagem coloquial, e a trazer para a literatura e a vida do homem rural do Rio Grande do Sul, Simões Lopes Neto, um homem à frente de seu tempo, recebe nos dias de hoje o grato e o necessário reconhecimento pela sua contribuição à literatura. No ano do centenário de seu livro mais famoso, Contos Gauchescos, livro de uma qualidade não menos evidente, nem menor, que mais tarde seria acrescido pelo livro Lendas do Sul, as inúmeras homenagens celebram a memória e a singularidade desse pensador e escritor que já tem seu espaço guardado entre os grandes da literatura mundial. A Coordenação do Livro, sempre presente na 58° Feira do Livro de Porto Alegre, foi conferir na Sala dos Jacarandás, no dia 5 de Novembro, uma mesa-debate em homenagem ao escritor.

O evento, que contou com a participação de quatro convidados, entre eles o Professor Doutor em Literatura Brasileira Cícero Galeno Lopes, Débora Mutter, também professora de Literatura doutorada, Fabiane Resende, mestre em História da Literatura, e  Maria Alice Braga, também doutora em Literatura. Com esse escalão especializado, o papo só poderia ter sido bom e esclarecedor, e foi! O bom-humor e a perspecicácia do professor Cícero, que mediou o debate, foi contagiante. A conversa foi separada por blocos, mais especificamente temas, cada professor falou cerca de 15 minutos sobre um tema diferente, focando no seu objeto de estudo.

A professora Fabiane Resende, que leciona na Universidade Federal de Rio Grande (FURG), iniciou a conversa debatendo sobre o poema Cancioneiro Guasca. Fabiane leu um texto crítico sobre a obra,  ressaltou a importância do teor da oralidade, presente nas quadras do poema. Analisou também a versão negativa da mulher, a honra do homem (militar), a visão positivista intrínseca no poema e, também, as cantigas infantis.
 
Abrindo o debate, a professora Fabiane Resende discursou sobre a poesia do autor.
Já a professora Maria Alice Braga conversou sobre as lendas em Simões Lopes Neto. Analisou o livro Lendas do Sul, trazendo a conversa mais uma vez para o tom da oralidade, muito presente em toda a obra do autor. Ressaltou ainda a intertextualidade das lendas e, por fim, acresentou que a experiência de Simões Lopes Neto com a escrita, ou como escritor, se relaciona diretamente na maneira como ele apresenta e retrata as lendas, ou seja, que há, gradativamente, um amadurecimento na escrita de Simões.

Maria Alice Braga comentou sobre os mitos e histórias de Lendas do Sul.
No bloco seguinte, o professor Cícero analisou o livro, que completa seu centenário este ano, Contos Gauchescos. Começou provocativo, analisando o título que dá nome ao livro ao mesmo tempo que indagava a plateia sobre o por quê do livro não se chamar Contos Gaúchos/ Gauchadas. Pois, explicou o professor, ele, Simões Lopes Neto, já conhecia uma novela de nome parecido,  que impossibilitaria a nomenclatura. Ao final,  apontou para os aspectos modernos na prosa de Simões Lopes Neto e ainda apresentou as intenções de Simões com um projeto, uma estratégia de composição para tentar representar e criar a figura  do Gaúcho.

Com um humor particular, Cícero Galeno Lopes falou sobre o filho maior do autor, os Contos Cauchescos.
Ao final do debate, a professora Débora Mutter abordou em seu eixo temático o teatro. Criticou o fato do teatro de Simões Lopes Neto não ser tão divulgado, tampouco estudado. Ao contrário dos outros livros de Simões, com a abordagem da linguagem e da vida rural, o teatro é exclusivamente de linguagem urbana, o que, segundo Débora, causa um estranhamento no contato com essas obras. Acrescentou que a peça Viúva Pitorra é uma das melhores do autor, e relacionou o teatro de Simões com o de Martins Pena.

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