César Aira, por Joca Reiners Terron

Depois do papo entre Paulo Scott, Ítalo Moriconi e Beatriz Resende sobre a produção literária nacional, foi a vez do escritor Joca Reiners Terron (que lançava no mesmo dia seu livro Guia de Ruas Sem Saída) entrevistar um dos maiores nomes da literatura contemporânea de língua espanhola: o argentino César Aira.

Antes da primeira pergunta, Joca pediu desculpas quanto ao fato de Sérgio Sant'Anna, que também participaria do evento, não ter comparecido por estar com problemas de saúde.

Joca Reiners Terron e César Aira no início da entrevista
E foi uma pena que ele não tenha vindo, de fato. A entrevista iniciou justamente tratando da relação de Aira com Sant'anna. O escritor de Buenos Aires explicou: "Conheci o Sérgio Sant'Anna por narcisismo — li numa entrevista com ele que ele me lia e admirava. Pensei: 'então deve ser um homem inteligente'".

A partir de então, Aira descobriu a obra do autor brasileiro e se tornou "de certo modo, o tradutor oficial de Sergio Sant'Anna para castelhano". Não que, obviamente, ele não lesse a literatura do país do futebol — declarou que lê os nossos escritores desde a infância e que considera a literatura brasileira a mais farta da América Latina. 

O primeiro escritor tupiniquim pelo qual se apaixonou foi Guimarães Rosa, ao ponto de declarar ter pensado, depois de ler a obra do autor de Grande Sertão: Veredas, "Para que vou escrever se isto já está escrito?".

Sobre suas cargas de leituras, Aira admite ler muito e ler sempre, de modo que "nenhuma influência" lhe "abruma a visão literária", pois sempre passa de um autor para outro. O último autor brasileiro que o surpreendeu e emocionou foi o porto-alegrense João Gilberto Noll. Aira comentou sentir muita proximidade com os textos de Noll, e encerrou sua homenagem declarando: "é o que eu queria ter escrito".

Cesar Aira fala sobre sua produção literária
A entrevista passou por diversos tópicos, incluindo a inserção da figura indígena na literatura de Aira (ontem, coincidentemente, era o Dia Nacional do Índio), que o argentino justificou como "uma provocação", pois os índios sempre foram retratados como semi-animais na literatura castelhana; a influência da visualidade das histórias em quadrinhos nos romances de Aira (em especial Mandrake); o fato de ele ser admirado enquanto escritor por gente como Daniel Radcliffe (astro da adaptação para cinema da série de livros Harry Potter) e Thurston Moore (guitarrista do Sonic Youth) e do quanto isso ajudou ele a ganhar leitores entre a juventude platina, etc. 

O mais curioso da conversa foram os comentários de Aira sobre como ele escreve "um parágrafo por dia", passa "30 minutos pensando antes de escrever cada frase" e ainda assim é rotulado como "escritor prolífico".

As constatações do autor que lança livros (novelas) em ritmo frenético e que brinca que considera o gênero "morto", "uma coisa que se fazia só para vender", tornam-se mais sérias quando ele fala sobre como a literatura, em especial a argentina, tem sido lida menos como arte e mais como veículo para discurso ideológico.

Para ele, o livro não pode ser entendido simplesmente assim, mesmo porque ele troca de opinião a cada segundo que passa.

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